quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Por que as nações falham: Diferença marcante entre Ucrânia e Reino Unido


SÃO PAULO - Ucrânia e Reino Unido. A rigor, o problema que vivem é o mesmo: uma parte da população do país deseja separar-se para constituir uma unidade política distinta. Os processos, entretanto, não poderiam ser mais diferentes.
Na Ucrânia, a disputa assumiu a forma de uma guerra civil, na qual potências estrangeiras, notadamente a Rússia de Vladimir Putin, não cessam de intervir. Já no Reino Unido, escoceses irão pacificamente às urnas no próximo dia 18 para definir se manterão sua aliança com a Inglaterra ou formarão um país independente. Mesmo que os secessionistas prevaleçam, ninguém prevê um conflito armado. Por que a diferença?
Obviamente, há muitos fatores em operação, mas acho que a institucionalidade responde por boa parte do enigma. Enquanto o Reino Unido é uma das mais antigas democracias do planeta, com instituições políticas maduras o bastante para digerir um problema complicado como a desintegração do país, nada remotamente semelhante chegou a surgir na Ucrânia e na Rússia pós-soviéticas, onde essas questões ainda são decididas pela lei do mais forte.
Quem defende com maestria e profusão de exemplos essa teoria de que as instituições explicam (quase) tudo são Daron Acemoglu e James Robinson, autores do livro "Por Que Nações Fracassam", que recomendo.
A possível fragmentação do Reino Unido também nos coloca diante de um dos dogmas da geopolítica contemporânea que é o de que a integridade territorial dos países deve sempre ser respeitada. Será? Essa tese até faz sentido para quem vê nações como a união que a história impõe a povos e pessoas. Penso, porém, que faz mais sentido descrever um país como a vontade que indivíduos têm de construir um futuro comum e, neste caso, as fronteiras são só um detalhe. Desde que os termos sejam negociados por todas as partes afetadas, não vejo problema em redesenhar países e criar novas nações. helio@uol.com.br
Folha: 10.09.2014.
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quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Brasil cai um posto em lista de países mais competitivos: Ineficiência do governo foi um dos pontos que pesaram para queda

País ficou na 57ª posição em estudo que mede competitividade, atrás de China, Rússia, Chile e África do Sul

MACHADO DA COSTADE SÃO PAULO
O Brasil perdeu uma posição no ranking global de competitividade neste ano e agora ocupa a 57ª posição de 144. Feito pelo Fórum Econômico Mundial, o estudo aponta para a ineficiência do governo como o principal fator de piora entre 2013 e 2014.
Educação superior e saúde, por outro lado, foram os quesitos em que o país apresentou evolução no último ano, segundo o estudo.
Para Carlos Arruda, coordenador do Núcleo de Inovação da Fundação Dom Cabral e responsável pelos dados do Brasil que compõem o ranking, o levantamento mostra que o país precisa fazer reformas como trabalhista e tributária o quanto antes.
No quesito instituições, que mede justamente a atuação de órgãos governamentais, o Brasil ficou em 94º lugar. Em 2013, estava em 80º.
O país está entre os últimos colocados em alguns dos componentes que integram esse índice, como peso das regulações governamentais (143º), confiança nos políticos (140º), desperdício do governo (137º) e desvios de recursos públicos (135º).
Arruda afirma que o estudo é feito com empresários e o cálculo representa suas percepções.
Nem mesmo as aprovações no Congresso do Código Florestal, do Marco Civil da Internet ou da partilha dos royalties do pré-sal ajudaram nessa percepção.
"Apesar de o Brasil ter feito reformas, elas têm avançado de forma mais lenta do que outros países. O Brasil está fazendo menos do que o que é preciso", afirma.
O ambiente macroeconômico também foi um fator de perda de competitividade. Pioras na poupança bruta, na inflação e na dívida bruta contribuíram para a queda de dez posições nesse quesito.
A eficiência do mercado de trabalho também arrastou o Brasil para baixo no estudo.
O país perdeu 17 posições no último ano devido à falta de reformas na legislação trabalhista, diz Arruda.
"A comunidade empresarial entende que nada está sendo feito para flexibilizar a legislação trabalhista."
EMERGENTES
O Brasil está à frente da maioria de seus parceiros comerciais na América Latina, mas é o quarto colocado entre os Brics, atrás de China (28º), Rússia (53º) e África do Sul (56º), somente à frente da Índia (71º) nesse grupo.
Entre as principais economias latino-americanas, o Chile se destaca, em 33º lugar. O Brasil é o segundo, à frente de México (61º) e Peru (65º).

Estudo une reivindicações de manifestantes e empresários

Em tudo o que depende de ação do governo, o Brasil fica entre os últimos do relatório do Fórum Econômico Mundial
CLÓVIS ROSSICOLUNISTA DA FOLHA
A avenida Paulista, epicentro dos protestos contra tudo, e Davos, que abriga todo janeiro o convescote da elite global, encontraram-se nesta terça-feira (2), ao ser divulgado o Relatório Global de Competitividade para o período 2014-15, elaborado pelo Fórum Econômico Mundial, que capitaneia o encontro em Davos.
Explico: os protestos de junho do ano passado (e não só na Paulista) foram uma catarata de críticas ao funcionamento de praticamente tudo de que os governos deveriam cuidar. O Fórum de Davos dá razão aos protestos, ao colocar o Brasil em posições desastrosas em "eficiência do governo" (131º em 144 países listados), "funcionamento das instituições" (104º) e "corrupção" --aliás, outro foco dos protestos--, em que o Brasil fica no 130º lugar, sem falar em "educação" (126º).
Ou seja, em tudo o que depende de ação do governo, o Brasil fica entre os últimos da fila, embora, no cômputo geral de todos os itens avaliados, a posição do país seja intermediária (57º).
Mas o relatório também dá certa razão aos empresários e analistas econômicos liberais/conservadores, que não se cansam de criticar o pífio desempenho da economia na gestão Dilma Rousseff: a pobre evolução da economia coloca o Brasil no 85º posto em tal quesito, quase 30 posições, portanto, atrás da classificação geral.
Como é próprio em relatórios da corrente ortodoxa da economia, caso dos gurus de Davos, o relatório só dá como positivos os aspectos que não dependem diretamente da ação/inação governamental, tais como o tamanho do mercado e sua "razoavelmente sofisticada comunidade de negócios, com bolsões de excelência em inovação, em muitas atividades ligadas à pesquisa e à produção de valor agregado".
As dificuldades apontadas para o Brasil valem para a América Latina, a tal ponto que o relatório acaba sendo uma comprovação indireta do fracasso das políticas de integração no subcontinente, prioridade dos governos Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva.
Ambos apostavam em projetos de infraestrutura para integrar a região, mas o relatório aponta agora como fator que limita o crescimento a carência de "investimentos suficientes" exatamente em uma área como a infraestrutura, além de desenvolvimento de talentos e da inovação.
Não parece leviano especular que essa percepção de Davos combina com a da maioria do eleitorado brasileiro, que, em sucessivas pesquisas, manifesta-se maciçamente por "mudanças".
Ajuda a explicar as dificuldades que enfrenta a candidatura à reeleição de Dilma Rousseff (PT).
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