quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Brasil cai um posto em lista de países mais competitivos: Ineficiência do governo foi um dos pontos que pesaram para queda

País ficou na 57ª posição em estudo que mede competitividade, atrás de China, Rússia, Chile e África do Sul

MACHADO DA COSTADE SÃO PAULO
O Brasil perdeu uma posição no ranking global de competitividade neste ano e agora ocupa a 57ª posição de 144. Feito pelo Fórum Econômico Mundial, o estudo aponta para a ineficiência do governo como o principal fator de piora entre 2013 e 2014.
Educação superior e saúde, por outro lado, foram os quesitos em que o país apresentou evolução no último ano, segundo o estudo.
Para Carlos Arruda, coordenador do Núcleo de Inovação da Fundação Dom Cabral e responsável pelos dados do Brasil que compõem o ranking, o levantamento mostra que o país precisa fazer reformas como trabalhista e tributária o quanto antes.
No quesito instituições, que mede justamente a atuação de órgãos governamentais, o Brasil ficou em 94º lugar. Em 2013, estava em 80º.
O país está entre os últimos colocados em alguns dos componentes que integram esse índice, como peso das regulações governamentais (143º), confiança nos políticos (140º), desperdício do governo (137º) e desvios de recursos públicos (135º).
Arruda afirma que o estudo é feito com empresários e o cálculo representa suas percepções.
Nem mesmo as aprovações no Congresso do Código Florestal, do Marco Civil da Internet ou da partilha dos royalties do pré-sal ajudaram nessa percepção.
"Apesar de o Brasil ter feito reformas, elas têm avançado de forma mais lenta do que outros países. O Brasil está fazendo menos do que o que é preciso", afirma.
O ambiente macroeconômico também foi um fator de perda de competitividade. Pioras na poupança bruta, na inflação e na dívida bruta contribuíram para a queda de dez posições nesse quesito.
A eficiência do mercado de trabalho também arrastou o Brasil para baixo no estudo.
O país perdeu 17 posições no último ano devido à falta de reformas na legislação trabalhista, diz Arruda.
"A comunidade empresarial entende que nada está sendo feito para flexibilizar a legislação trabalhista."
EMERGENTES
O Brasil está à frente da maioria de seus parceiros comerciais na América Latina, mas é o quarto colocado entre os Brics, atrás de China (28º), Rússia (53º) e África do Sul (56º), somente à frente da Índia (71º) nesse grupo.
Entre as principais economias latino-americanas, o Chile se destaca, em 33º lugar. O Brasil é o segundo, à frente de México (61º) e Peru (65º).

Estudo une reivindicações de manifestantes e empresários

Em tudo o que depende de ação do governo, o Brasil fica entre os últimos do relatório do Fórum Econômico Mundial
CLÓVIS ROSSICOLUNISTA DA FOLHA
A avenida Paulista, epicentro dos protestos contra tudo, e Davos, que abriga todo janeiro o convescote da elite global, encontraram-se nesta terça-feira (2), ao ser divulgado o Relatório Global de Competitividade para o período 2014-15, elaborado pelo Fórum Econômico Mundial, que capitaneia o encontro em Davos.
Explico: os protestos de junho do ano passado (e não só na Paulista) foram uma catarata de críticas ao funcionamento de praticamente tudo de que os governos deveriam cuidar. O Fórum de Davos dá razão aos protestos, ao colocar o Brasil em posições desastrosas em "eficiência do governo" (131º em 144 países listados), "funcionamento das instituições" (104º) e "corrupção" --aliás, outro foco dos protestos--, em que o Brasil fica no 130º lugar, sem falar em "educação" (126º).
Ou seja, em tudo o que depende de ação do governo, o Brasil fica entre os últimos da fila, embora, no cômputo geral de todos os itens avaliados, a posição do país seja intermediária (57º).
Mas o relatório também dá certa razão aos empresários e analistas econômicos liberais/conservadores, que não se cansam de criticar o pífio desempenho da economia na gestão Dilma Rousseff: a pobre evolução da economia coloca o Brasil no 85º posto em tal quesito, quase 30 posições, portanto, atrás da classificação geral.
Como é próprio em relatórios da corrente ortodoxa da economia, caso dos gurus de Davos, o relatório só dá como positivos os aspectos que não dependem diretamente da ação/inação governamental, tais como o tamanho do mercado e sua "razoavelmente sofisticada comunidade de negócios, com bolsões de excelência em inovação, em muitas atividades ligadas à pesquisa e à produção de valor agregado".
As dificuldades apontadas para o Brasil valem para a América Latina, a tal ponto que o relatório acaba sendo uma comprovação indireta do fracasso das políticas de integração no subcontinente, prioridade dos governos Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva.
Ambos apostavam em projetos de infraestrutura para integrar a região, mas o relatório aponta agora como fator que limita o crescimento a carência de "investimentos suficientes" exatamente em uma área como a infraestrutura, além de desenvolvimento de talentos e da inovação.
Não parece leviano especular que essa percepção de Davos combina com a da maioria do eleitorado brasileiro, que, em sucessivas pesquisas, manifesta-se maciçamente por "mudanças".
Ajuda a explicar as dificuldades que enfrenta a candidatura à reeleição de Dilma Rousseff (PT).
www.abraao.com



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